PARTE 2
A família de Lewis tinha uma grande influência cristã: seu avô materno era
cristão, sua mãe não tinha uma religião especificada (Lewis, em sua autobiografia,
não consegue definir a religiosidade de sua mãe) e o próprio Clive afirma nunca ter
presenciado algo sobrenatural em sua família. Seu pai tinha uma forte atração pela
tradição e o vocabulário do “ Livro de Orações”; já o pequeno Lewis não tinha um
contato assíduo com a experência cristã e sobrenatural como exposto acima. C.
Lewis dava muito mais atenção aos infinitos livros que o conduziam para um mundo
além do muro. Ainda em sua infância, muitas coisas mudaram, mas para uma “ vida
real mais solitária”: seu irmão fora enviado para um internato na Inglaterra e uma
grande falta para Clive, que afirma, tempos depois: “ entre seis e oito anos de idade
eu vivia quase inteiramente na minha imaginação” (LEWIS, 1998, p. 22), ou seja,
ele prendia-se totalmente a seus escritos e fantasias.
Os anos passaram e a mãe de Clive começou a ficar muito doente, algo incurável,
segundo os médicos. Como sua família era bastante influenciada pelo cristianismo,
muitas pessoas começaram a orar e C. Lewis aprendeu com algumas pessoas
sobre as tais orações e sobre a fé; sobre estas orações. É possível que por meio
delas, Lewis começou a introduzir-se em uma crença, orando insistentemente pela
recuperação da mãe; mas, essa força de vontade e suas orações não produziram
êxito: sua mãe faleceu. Clive ainda acreditava num milagre, o da ressurreição talvez,
mas sua crença não produziu efeito algum. Lewis conformou-se com as coisas que
não funcionavam e decidiu esquecer o referido assunto. Em seu livro “Surpreendido
pela Alegria”, Clive soube definir esta experiência “religiosa” como algo
surpreendentemente não de fé, mas sim, mágico:
Acho que na verdade é que a crença à qual eu mesmo me havia
induzido era irreligiosa demais... Eu havia abordado a Deus, ou
minha idéia de Deus, sem amor, sem espanto, até sem temor. Ele
deveria, na imagem mental que eu fazia desse milagre, aparecer não
como Salvador ou Juiz mas meramente como mágico; e quando já
tivesse feito o que dele se exigia, eu supunha que ele iria
simplesmente... ora, ir embora. (LEWIS, 1998, p. 28)
O menino Lewis sofreu muito com a morte de sua mãe; sentiu-se abandonado
e infeliz. Anos depois, enveredou-se para uma espécie de pessimismo: fantasias
ocultas, perda de fé, da virtude e da simplicidade, tudo isso influenciado por alguns
“puritanos apóstatas” e ateus, tornando-se, por fim, um ateu convicto durante um
pequeno período de sua vida. C. S. Lewis classifica esta parte de sua vida, ligada ao
ateísmo, de uma “lenta apostasia”. Anos se passaram e Lewis ingressa na
faculdade, onde conheceu o professor J. R. R. Tolkien
grandes amigos.
Tolkien foi a pessoa que mais incidência teve na vida de C. Lewis e que o fez
retornar à sua necessidade de sentir novamente a Alegria: “Suas opiniões sobre
mitos e imaginação e a relação de ambos quanto à realidade ajudaram a persuadir
sobre a verdade do cristianismo” (DURIEZ, 2005, p.33) . A amizade que crescera
entre ambos foi de grande importância.
Segundo Tolkien, Lewis era a sua “platéia”, ou seja, quem apreciava
seus contos e poemas. Além disso, e sem o seu grande incentivo, a obra “O Senhor
dos Anéis” não teria sido publicada. Além de ser grande apreciador do trabalho de J.
R. R. Tolkien, ambos compartilhavam as mesmas opiniões sobre a imaginação e a
1 e logo vieram a se tornarverdade do cristianismo. Durante esta longa amizade, Tolkien iniciou o processo de
tentar convencer e explicar a seu amigo sobre a verdade da fé cristã; foram longas
noites de conversa. Em algumas dessas conversas, Tolkien contou com o apoio de
Hugo Dyson que descrevia que os Evangelhos pareciam ter um equilíbrio imaginário
e, por este motivo, Tolkien dizia que seu amigo não conseguia aceitar a realidade e
a verdade sobre o teologismo por uma “falha imaginativa”.